Review: Ensaio Sobre a Cegueira, José Saramago
O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegamos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos, Quem está a falar, perguntou o médico, Um cego, respondeu a voz, só um cego, é o que temos aqui.
Enfim, fiz as pazes com Saramago.
Confesso que no secundário posso ter desenvolvido uma certa aversão a Saramago, depois de ler o Memorial do Convento. Apesar de ter gostado muito de algumas partes do livro, foi uma leitura muito pouco prazerosa, o que me fez evitar ler mais coisas deste autor. Um erro atroz!
Depois de adorar as intermitências da morte, lancei-me ao Ensaio Sobre a Cegueira e só lamento não ter lido mais cedo!
Para quem não conhece a história, basicamente, o livro transporta-nos até uma realidade em que aos poucos todas as pessoas começam a cegar. Ninguém sabe explicar muito bem porquê, nem como se transmite, mas toda a humanidade padece desta epidemia.
As primeiras vítimas desta doença misteriosa, que provoca uma cegueira branca, diferente da cegueira que conhecemos, são levadas para um local onde ficarão em quarentena, completamente isoladas do mundo. Aqui se revela o melhor e o pior da humanidade quando expostos ao medo.
É um livro muito cru, onde os ambientes que rodeiam os personagens são descritos sem eufemismos. Esta leitura fez-me pensar muito na pandemia, quando nos vimos assolados por uma doença que ninguém sabia de onde vinha e que repercussões teria em nós, em que nos vimos obrigados a parar as nossas vidas e afastarmo-nos dos que amamos, em que observamos como o comportamento humano é errático face ao medo. Felizmente, não li este livro nessa altura, porque acho que seria demasiado realista.
Agora que descobri Saramago, não quero mais parar. Espero ler em breve o Ensaio Sobre a Lucidez, cuja história me deixou muito intrigada. Mas gostava muito de saber as vossas recomendações do nosso prémio nobel. O que me recomendam ler em seguida?
A minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐⭐