Review: Ensaios Fundação Francisco Manuel dos Santos
Esta semana temos review em dose dupla!
No início do ano descobri um pequeno ensaio sobre o trabalho de limpezas em Portugal no podcast Livra-te, da Rita da Nova e da Joana da Silva, chamado "As invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza".
Este pequeno livro faz parte de um conjunto de 61 retratos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que abordam várias áreas da sociedade portuguesa, dando a conhecer histórias reais com a quais nos cruzamos diariamente, mas que talvez pela agitação em que vivemos nos passam ao lado.
São obras pequenas, com pouco mais de 100 páginas, mas que têm o poder de nos fazer pensar em realidades diferentes da nossa e de nos transportar, nem que por breves momentos, das nossas bolhas ideológicas.
Ora nesta review vou me focar apenas nos dois livros que li, o já mencionado acima e "A Religião dos Livros, Alfarrabistas, livrarias e libreiros", mas recomendo vivamente que explorem todas as obras que compõem a coleção porque existem muitas mais que valem a pena serem lidas e que, pretendo futuramente, acrescentar às minhas leituras.
Começando pelo primeiro livro que li desta coleção, "As invísiveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza", escrito pela jornalista Rita Pereira Carvalho, traça o perfil das senhoras das limpezas e digo senhoras porque são a maioria das que exerce este trabalho em Portugal.
Nas nossas vidas agitadas rarmente nos apercebemos que existem pessoas responsáveis por manter os espaços por onde passamos limpos. Estas pessoas, que acordam muitas vezes antes do sol, deixam os filhos e a família para trás e saem de casa para apanhar os transportes públicos rumo ao seu trabalho.
São elas que acordam as cidades, apressadas rumam aos escritórios, centros comerciais, bancos e outras instituições para garantir que tudo está limpo, para que quando o resto da cidade acordar a sua presença não seja notada.
Muitas vezes menosprezado, o trabalho destas mulheres (e homens) contribui para o nosso funcionamento enquanto sociedade desenvolvia, no entanto não lhes é dado o mérito que merecem.
Nas limpezas há sempre alguém que suja de dia e alguém que tem de limpar à noite.
Mal pagas e, muitas vezes excluídas da sociedade, este é um trabalho que muitas aceitam por não verem outra solução para alimentar as suas famílias.
Durante a pandemia, período em que estes retratos foram recolhidos, as senhoras da limpeza tiveram um papel essencial para garantir a nossa segurança, no entanto o seu papel nem sempre foi devidamente valorizado.
Equanto que nos protegiamos nas nossas casas, elas saíam rumo aos hospitais e restantes serviços que não podiam fechar de forma alguma e garantiam as condições de higiene e segurança para todos.
Ao longo destas 82 páginas são traçados retartos de mulhers portuguesas, mas não só, brasileiras e dos PALOP, maioritariamente, são mulheres e homens dos 18 aos 70, que sempre fizeram este trabalho, que começaram agora ou que só o estão a fazer para pagar os estudos, mas todas elas têm algo em comum:
Há pessoas que são socialmente invisíveis, e há igualmente uma barreira responsável pela separação de pessoas e classes sociais. Uma pessoa representa uma classe social, mas o inverso raramente acontece.
O segundo retrato que li "A religião dos livros, Alfarrabistas, livrarias e libreiros", de Carlos Maria Bobone, um alfarrabista e escritor do observador, faz um retrato sobre o mercado livreiro português dando um maior enfoque ao dos livros usados.
O mundo das livrarias aparece-nos sempre como um espaço de excepção, habitado por excêntricos guardiões de preciosidades que o mundo esqueceu, numa nobre e romântica luta contra as regras da modernidade.
Enquanto apaixonada por livros posso dizer que esta é uma obra essencial para se aprender um pouco mais sobre o mercado editorial português, as descrepâncias existentes e também compreender um pouco melhor o preçário dos livros que nos parece sempre tão exagerado.
Além disso, também conseguimos perceber como funciona a atribuição de preços aos livros em segunda mão, pricipalmente aos mais raros, bem como o funcionamente dos leilões, que eu não fazia ideia que dava tanto pano para mangas.
Para mim esta foi uma leitura muito prazerosa e da qual retirei muitos novos conceitos e ideias das quais desconhecia por completo. Recomendo vivamente esta leitura para queles que, tal como eu, têm um fascínio, não muito secreto, por estes tesouros que se tornam em amigos e que nos transportam para lá dos sonhos.
Quem lê é sempre livre e nunca está sozinho, pode viver nesse mundo de imaginação guiada e privar sem licença com os grandes espíritos que habitaram a terra.
A minha avaliação: 5