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Paula Mendes

Mais um blog sobre livros

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Review: Fahrenheit 451, de Ray Bradbury

Se gostas de Huxley e Orwell vais gostar de Bradbury, se nunca leste nenhum dos dois, vais amar também!

 

Sabem aquela frustração de ler um livro muito bom e pensar que demoraram anos a descobrir aquele autor e já podiam ter lido mais coisas dele? Pronto, foi o que me aconteceu com Ray Bradbury.

 

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Descobri este livro enquanto lia um outro, em Os livros que devoraram o meu pai, Afonso Cruz apresenta várias obras primas literárias mundiais, sendo uma delas o Fahrenheit 451. A breve descrição da história foi o suficiente para me deixar com a pulga atrás da orelha e arranjar um exemplar e posso garantir que foi uma excelente aquisição.

 

451ºF: Temperatura a que o papel dos livros atinge o ponto de ignição e é consumido pelo fogo

 

Nesta distopia com um toque de ficção científica, Ray Bradbury transporta-nos para um futuro um pouco negro em que as pessoas se tornaram dependenetes da televisão e de uma espécie de redes sociais, utilizadas através de uns ecrãs gigantes e onde nos são atribuídas famílias fictissias com as quais os personagens ficam ligados durante todo o dia. 

 

Neste hipotético futuro os bombeiros não apagam fogos, as casas são feitas de um material não inflamável o que torna impossível de arderem, pelo menos sem que o fogo seja provocado, o novo papel destes homens e mulheres consiste em queimar livros proibidos. É nesta profissão que se insere o nosso personagem principal Guy Montag.

 

É muito interessante ver a evolução desta personagem que começa, aparentemente completamente integrada nesta sociedade, mas que aos poucos se vai questionando sobre o seu papel e revoltando-se contra o estado a que as coisas chegaram.

 

São várias as comparações feitas entre este livro de Bradbury e o 1984 de Orwell, no entanto diria que este é um pouco mais sombrio. Porque enquanto que no 1984 temos uma entidade, um ditador, que tenta massificar a existência das pessoas caminhando para um mundo onde são todos iguais e onde o pensamento é massificado, em Fahrenheit 451 são as próprias pessoas que se tornam ignorantes. A sociedade idealizada por Bradbury é pautada pelo lazer, poucas são as pessoas que têm uma profissão, praticamente todas as personagens passam o dia fechadas em casa a olhar para ecrãs.

 

Uma das coisas que mais me intrigou neste livro foi a parecença, de certa forma, com a nossa atualidade, no livro o autor explica que com o aparecimento da televisão as pessoas foram ficando cada vez mais viciadas em conteúdos curtos e rápidos, os livros foram sendo resumidos para caberem em breves explicações de minutos, o pensamento foi sendo deixado de lado, tudo o que exigia alguma crítica ou dor foi proibido para que todos vivessem felizes na sua eterna ignorância. De certa forma, se pensarmos profundamente nisto, é um pouco o que está a acontecer com os Reels e Tiktoks. Cada vez consumimos mais conteúdos curtos em vídeo, que nos exigem o mínimo de pensamento crítico, temos cada vez mais dificuldade em ler e interpretar textos, não conseguimos analisar criticamente as notícias e procurar saber se realmente aquilo que estamos a ler é verdade ou mais uma das muitas fake news que se espalham à velocidade da luz. Estaremos nós a caminhar para o mundo de Montag?

 

Com o desencadear da revolta da nossa personagem principal vão surgindo novas personagens como Faber e novos pensamentos profundos sobre as opções que o futuro nos reserva. O fim do livro é incrível, não quero revelar muito para não estragar a ação, mas posso confirmar que acaba com uma réstia de esperança da qual destaco esta frase:

 

Mas é isso que a humanidade tem de maravilhoso: por mais desencorajantes e terríveis que sejam as circunstâncias, nunca deixa de voltar a tentar, porque sabe que há coisas que são importantes e merecedoras do riso da tentativa.

 

Este é um daqueles livros que acho que vou reler várias vezes até ao fim da minha vida e que de cada vez que pegar nele vou conseguir identificar mais uma ideia ou pensamento subentendido.

 

Já leste este livro? Ficaste com curiosidade de o ler? Conta-me tudo nos comentários.

 

A minha avaliação: 4.5