No outro dia, apanhei-me a olhar seriamente para a minha estante de livros e a pensar como seria voltar a ler os meus livros favoritos pela primeira vez. 

Existe algo mágico quando pegamos num livro para iniciarmos a sua primeira leitura. O cheiro do papel novo, ou do pó que esconde múltiplas histórias e o toque de cada página. Eu adoro reler os meus livros preferidos, de cada vez que o faço encontro novos sentidos para as palavras, redescubro significados escondidos que uma primeira leitura não iluminou, mas nada bate a primeira vez que nos deparamos com uma história, em que não sabemos se vamos gostar ou não, como vai prosseguir a história, qual será o fim do nosso personagem preferido, …

Ler um livro pela primeira vez é muito semelhante à vida em geral, fazemos uma nova descoberta a cada capítulo e o final só será revelado quando lá chegarmos (para aqueles que não fazem batota e vão ler o fim antes do tempo).

Quando me propus a escrever este artigo, a escolha dos livros que gostava de reler pela primeira vez tornou-se mais difícil. Como se não quisesse magoar os sentimentos daqueles que não iriam entrar nesta lista. Consegui reduzir a minha lista a 5 obras, aqui estão:

• Amor em tempos de cólera, Gabriel Garcia Márquez

Foi um dos livros que mais gostei de ler e que mais me entristeceu pelo seu fim, que senti tão precoce. 

A escrita de Garcia Márquez é verdadeiramente mágica, ele tem uma capacidade incrível de nos fazer mergulhar nas suas palavras e fazer com que nos consigamos abstrair do mundo em geral. Não parece que estamos a ler, mas sim a viver cada palavra e a entrar dentro dos sentimentos mais obscuros de cada personagem.

• Orgulho e preconceito, Jane Austen

São vários os livros de Jane Austen que ocupam um lugar de destaque na minha lista de favoritos, mas o Orgulho e Preconceito tem um lugar especial no meu coração. 

Em criança gostava muito de ver filmes, algo que acho que herdei do meu pai, a paixão pelos livros surgiu bem depois. Lembro-me da primeira vez que vi Keira Knightley interpretar Elizabeth Bennet, foi o início de uma ligeira obsessão. Entretanto já devo ter visto este filme mais de cem vezes. 

A primeira vez que li o livro foi na biblioteca da escola secundária onde andava. Lá havia uma edição especial do livro, com uma das capas mais bonitas que já vi, durante anos tentei encontrar um exemplar desta edição, sem sucesso. Lia o livro nos intervalos de almoço, sentava-me numa mesa com a minha amiga Teresa, confirmava no meu caderno a página em que tinha ficado no dia anterior e retomava a leitura. Anos mais tarde na feira do livro comprei a obra e desde então já a li mais duas vezes. Tenho a certeza que ainda vou reler o livro muitas mais vezes, mas sei que nada bate a primeira vez que o folheei.

• Um quarto que seja seu, Virginia Woolf

Durante a pandemia, juntei-me a um clube de leitura organizado pela incrível Sara Barros Leitão. 

Num dos meses lemos o livro Ondas, de Virginia Woolf, esta leitura fez-me pesquisar mais obras da autora e acabei por comprar também Mrs Dalloway e Um quarto que seja seu. Gostei muito dos dois livros (bastante mais do que as ondas), mas o segundo destacou-se sem dúvida. 

Lembro-me de o estar a ler e sentir uma assustadora semelhança com o que a autora escreveu no século XX, o meu exemplar tem imensas passagens sublinhadas e algumas anotações que me tocaram o coração. Este é um daqueles, para ler, reler e voltar a ler, vezes e vezes sem conta.

• Misery, Stephen King

A minha paixão pela leitura começou com os policiais da Agatha Christie e este género literário ainda ocupa um lugar muito especial no meu coração. Sempre que possível compro um ou dois policiais para reviver a minha infância. 

Li o Misery na universidade, foi me oferecido, e devo ter devorado o livro porque me lembro de ter começado e acabado num piscar de olhos. Fiquei completamente vidrada na história, sempre que um capítulo terminava ficava super intrigada e não aguentava sem passar ao próximo capítulo e ao próximo e ao próximo. 

Olho muitas vezes para o livro na minha estante e penso em pegar nele e voltar a ler, talvez o faça num futuro próximo.

• A Desobediente, Biografia de Maria Teresa Horta de Patrícia Reis

Por fim, pegando num livro que li em 2024. A Desobediente, além de ter sido a primeira biografia que li, impressionou-me bastante. Penso que pela história de vida de Teresa, pela sua obra, mas também pela sua perseverança, audácia para aquele tempo e não posso deixar de mencionar a escrita incrível da Patrícia Reis. Foi uma agradável surpresa que este ano me trouxe e que se pudesse voltava a reviver pela primeira vez.

E tu? Se pudesses voltar a ler um livro pela primeira vez, qual seria?

Estou ansiosa por ler as vossas escolhas! 😊